Inclusão na infância: como falar sobre o assunto desde os primeiros anos?

Você já parou para pensar em como seu filho enxerga outra criança portadora de alguma deficiência? Ou o que ele pensa sobre a cor da pele do coleguinha ser mais escura, mais clara ou toda pintadinha, com vitiligo? Esse tipo de curiosidade é natural aos pequenos, e cabe aos mais velhos fornecer respostas respeitosas e empáticas, que valorizem a diversidade humana e incentivem o convívio entre todos.

Inclusão na infância: como falar sobre o assunto desde os primeiros anos?
Imagem: criado por Freepik

No geral, crianças com deficiência tendem a ser rotuladas e vistas apenas pelos seus impedimentos. Para mudar essa visão, os pais devem mostrar aos filhos o valor da diversidade humana e incentivar que convivam e brinquem com crianças diversas.

Promover esse diálogo com os filhos, no entanto, nem sempre é fácil. Fabiana Gutierrez, co-fundadora de Carlotas, instituição que fala sobre diversidade para crianças, diz que muitas vezes anulamos ou nos retiramos do assunto por medo de abordar algo desconhecido para nós mesmos. “É natural que assuntos que não conhecemos nos tragam desconforto, portanto, é nossa responsabilidade reconhecer o nosso ‘não-saber’ e pesquisar sobre ele”, ressalta.

Dia internacional da Pessoa com Deficiência

O Dia Internacional da Pessoa com Deficiência é comemorado em 3 de dezembro, desde 1992. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma forma de promover a conscientização e divulgação de temas relacionados à população.

Essa iniciativa tem como objetivo conscientizar a sociedade para a igualdade de oportunidades a todos os cidadãos, promover os direitos humanos, conscientizar a população sobre assuntos de deficiência, celebrar as conquistas da pessoa com deficiência e pensar na inclusão desse segmento dentro da sociedade, para que ele influencie os programas e políticas voltados para essas pessoas.

As Nações Unidas buscam enfatizar os significativos benefícios que a acessibilidade pode trazer, tanto para pessoas com deficiência quanto para a sociedade, e a divulgação desse fato entre os governos, as empresas e o público em geral. Neste sentido, como um dos princípios básicos dos Direitos Humanos, a acessibilidade se insere no contexto mais amplo da promoção da igualdade.

A conscientização começa em casa

Para a ativista Jeane Santos, os adultos são os responsáveis por dar suporte para que a criança possa compreender quem ela é e de que maneira ela será apresentada na sociedade.

É muito importante educar as crianças para respeitarem a diferença, que podem ser encontradas nos tipos de brinquedos, nas línguas faladas, nos vários costumes entre os amigos e pessoas de diferentes culturas, raças e etnias. As diferenças enriquecem nosso conhecimento.

Leia mais em: http://blog.girassolbrasil.com.br/consciencia-negra-desde-a-infancia/

A família é a principal fonte de referências para o desenvolvimento das crianças, isso também quer dizer que os pequenos aprendem – e muito – pela observação. Ou seja, em algumas situações, as ações valem mais do que as palavras. Por isso, vale fazer uma reflexão sobre suas atitudes. Por exemplo, não sinta pena de outras pessoas e respeite vagas e filas preferenciais.

Os pais, as mães e/ou as pessoas responsáveis devem ser exemplo de inclusão. Mesmo sem agir por maldade, algumas situações ou termos acabam surgindo sem perceber. Por isso, busque se informar sobre situações de discriminação ou exclusão.

Inclusão nas escolas

De acordo com o Artigo 205 da Constituição Federal de 1988, “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”

A diversidade de experiências, habilidades, contextos e capacidades entre estudantes é uma realidade que deve ser celebrada através de práticas educacionais inclusivas. Nas últimas décadas, a insistência em modelos pedagógicos padronizados demonstrou ser pouco eficiente, de modo que o presente e o futuro da educação consistem na promoção da diversidade como um valor inegociável.

Quanto mais respeitados em suas diferenças, mais os estudantes e educadores avançam, sejam eles pessoas com ou sem deficiência. Pensando que a maldade e o preconceito podem ser fomentados ao longo do tempo, é fundamental que educadores ensinem aos estudantes sobre respeito às diferenças desde os primeiros anos de ensino.

A literatura e a inclusão de crianças com deficiência

Enquanto coordenadora e especialista em curadoria, Cynthia Spaggiari vê na literatura infantil uma importante aliada: “Há cada vez mais produções de histórias com protagonismo de crianças com diferentes tipos de transtornos ou deficiências e elas têm um papel fundamental para proporcionar a estas crianças com deficiência o reconhecimento de sua singularidade, e às demais crianças a compreensão das diferentes formas de ser.”, afirma. 

Trouxemos duas sugestões de livros para você:

  • Coleção “Bem-me-quer” – Turma da Mônica
  • Quer ler um livro comigo?

Atenção às palavras

Ao mesmo tempo, cuide do seu próprio discurso. Lembre-se de que suas falas serão compreendidas como verdades quase absolutas em um primeiro momento, e por esse motivo, reproduzidas. Por isso, não se prenda a respostas genéricas ou pré-conceitos estabelecidos.

É importante não se referir a pessoas com deficiência com tom ou palavras que denotem pena ou inferiorização. Desconstruir a ideia de que a criança ou o adulto com deficiência é uma vítima ou uma pessoa especial é o primeiro passo para educar para a diversidade.

Conversando sobre inclusão

Uma das principais preocupações na hora de conversar sobre deficiência e inclusão com as crianças são as formas de falar sobre o assunto. Abaixo veja sugestões para abordar o tema:

  • Incentive a convivência com pessoas com deficiência. É importante permitir, desde cedo, que todas as crianças tenham contato entre si, brinquem e frequentem ambientes diversos.
  • Tenha uma conversa franca sobre o assunto. Quando as crianças se sentem seguras para tirar suas dúvidas, explicar sobre diversidade e inclusão se torna algo mais fácil.
  • Ouça atentamente as dúvidas das crianças. Deixe que falem sem interrupções para entender a linha de raciocínio, só então faça mais perguntas ou determinada afirmação.
  • Pesquisem juntos. Se a criança apresentar uma curiosidade específica, pesquisem juntos sobre o tema.

“Se aprende com as diferenças e não com as igualdades.”

Paulo Freire

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