Consciência Negra na infância: como falar sobre representatividade com as crianças.

Comemorado em 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra é um marco nacional na luta contra o racismo e a desigualdade racial.

A data nos lembra a importância dos povos e da cultura africana na construção social e cultural brasileira, bem como a necessidade de abordar temas como o preconceito e a diversidade étnico-racial em diferentes esferas da sociedade – desde a primeira infância.

Consciência Negra na infância: como falar sobre representatividade com as crianças.
Imagem: criado por Freepik

Durante a infância, vivemos o auge do nosso aprendizado. Especialmente na primeira infância, período que vai desde o nascimento até os seis anos de idade. Assim, tudo aquilo que os pequenos têm acesso e convivem, tornam-se referenciais na construção de suas teorias de mundo, suas ideias de família, de sociedade, de relações e de si mesmos.

Porém, as crianças ainda não filtram o que lhes é apresentado e não refletem por si só sobre o conteúdo que chega até elas. Isto é, se é bom, ruim ou se haveria outra forma de pensar. Para isso, os pequenos precisam da intermediação de adultos, que os façam perguntas e os levem a refletir.

Dessa forma, se uma criança sempre consome livros ou programas em que um padrão (de comportamento ou de imagem) se repete, aquela mensagem será captada como uma verdade para ela.

O que é representatividade?

Representatividade é a expressão dos interesses de um grupo, de forma que aquele que fala em nome do coletivo, o faz comprometido com as demandas e necessidades dos representados. A representatividade tem como fator a construção de subjetividade e identidade dos grupos e indivíduos que integram esse grupo.

O que isso significa? Significa que a representatividade não é apenas a organização de grupos buscando que seus interesses sejam representados e garantidos, mas é, sobretudo, parte da formação do indivíduo que compõe esse grupo.

A conscientização começa em casa

Para a ativista Jeane Santos, os adultos são os responsáveis por dar suporte para que a criança possa compreender quem ela é e de que maneira ela será apresentada na sociedade.

Sendo assim, é fundamental buscar referência preta social, tanto na literatura, como na música, no vídeo e em todos os meios de comunicação. “Nós temos pretos produzindo em todos os segmentos e não só isso, tem muita qualidade no que estamos entregando. Falta, em alguns, a vontade de buscar por essas contribuições”, pontua.

Separamos algumas sugestões de como apresentar o tema e falar sobre representatividade desde os primeiros anos de vida da crianças:

  • Eduque as crianças para respeitarem à diferença. Ela está nos tipos de brinquedos, nas línguas faladas, nos vários costumes entre os amigos e pessoas de diferentes culturas, raças e etnias. As diferenças enriquecem nosso conhecimento.
  • Textos, histórias, olhares, piadas e expressões podem ser estigmatizantes com outras crianças, culturas e tradições. Indigne-se e esteja alerta se isso acontecer – contextualize e sensibilize!
  • Valorize e incentive o comportamento respeitoso e sem preconceito em relação à diversidade étnico-racial.
  • As escolas são grandes espaços de aprendizagem. Em muitas, as crianças e os adolescentes estão aprendendo sobre a história e a cultura dos povos indígenas e da população negra; e como enfrentar o racismo. Ajude a escola de seus filhos a também adotar essa postura.
  • Não deixe de denunciar. Em todos os casos de discriminação, você deve buscar defesa no conselho tutelar, nas ouvidorias dos serviços públicos, na OAB e nas delegacias de proteção à infância e adolescência. A discriminação é uma violação de direitos.

Uma educação antirracista

É importante que o próprio professor, enquanto figura de exemplo para os estudantes, reavalie suas práticas, refletindo sobre valores e conceitos que ele traz sobre o povo negro e sua cultura, repensando suas ações cotidianas. Além disso, temos que considerar a realidade dos alunos e estimulá-los a fazer uma análise crítica dessa realidade, a fim de conhecê-la melhor, e comprometendo-se com sua transformação.

Mas como abordar o tema em diferentes componentes curriculares?

As propostas para abordar o Dia da Consciência Negra na escola podem ser trabalhadas de forma interdisciplinar, integrando diferentes componentes curriculares em uma temática central.

  • Língua Portuguesa: apresente propostas de produção de textos sobre a questão racial com base em diferentes gêneros literários, como biografia, dissertação, etc.
  • Geografia: mostre o continente africano e suas particularidades, migrações humanas, miscigenação, aspectos demográficos e sociais da população brasileira.
  • História: explique os contextos e acontecimentos importantes da história e cultura africana, bem como de outras datas de significado histórico e político para a população negra.
  • Matemática: fale sobre dados socioeconômicos que retratam as desigualdades históricas e atingem a população negra no país, como acesso ao mercado de trabalho formal.

E como trabalhar todos esses temas na Educação Infantil? Apresente para as crianças músicas, danças, jogos, brincadeiras e atividades de origem africana, como a capoeira, por exemplo.

Representatividade nos livros

Pessoas precisam ser vistas e precisam se enxergar em espaços públicos, novelas, cinema e até mesmo na literatura.

Obras infantis com protagonistas negros e histórias que resgatam a ancestralidade africana fortalecem a construção das identidades em crianças negras. Em casa ou na escola, os livros de histórias infantis despertam a imaginação dos pequeninos e servem como uma porta de entrada para o autoconhecimento.

Pensando nisso, conheça algumas de nossas obras que trazem personagens incríveis que, com certeza, irão conquistar um espaço no coração de cada um.

  • Escola de Princesas Recatadas: este livro busca, de uma forma bem-humorada, quebrar estereótipos e nos contar a história de uma princesa questionadora e corajosa, que coloca as convenções à prova enquanto vive a sua aventura.
  • Cartola: Conheça a infância de Cartola, estrela de primeira grandeza do samba carioca que, junto com um grupo de amigos do morro, fundou a Estação Primeira de Mangueira, grande escola de samba do Rio de Janeiro.
  • África – Contos do Rio, Da Selva e da Savana: Neste livro são contadas histórias da África que ajudaram na formação da cultura brasileira, pois vieram dos países de onde os africanos foram trazidos como escravos para o Brasil.

A escrita é para mim o movimento de dança-canto que o meu corpo não executou, é a senha pela qual eu acesso o mundo.

Conceição Evaristo

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