Estabilidade emocional na infância

Um tema atual de grande importância é a estabilidade emocional, principalmente na infância. Segundo Paula Furtado, psicopedagoga,  arteterapeuta e autora de de mais de 90 livros infantojuvenis, entre eles “Histórias para Aquecer o Coração” e a coleção “Bem-me-quer” (obras publicadas pela Girassol), a competência socioemocional é o que permite responder bem a situações de estresse.

Estabilidade emocional na infância
Imagem: criado por Freepik

Para respaldar sua tese de que a estabilidade emocional está relacionada a um baixo “neuroticismo” (isto é, a capacidade de reagir com calma diante de obstáculos), ela cita um estudo realizado pelo Dr. Alexander Weiss e colegas da Universidade de Edimburgo, em que 4,2 mil adultos do sexo masculinos foram acompanhados durante, no mínimo, 15 anos. Através do acompanhamento, descobriu-se que os pacientes que apresentaram menos picos de descontrole viveram mais e de forma mais saudável.

Ainda segundo Paula, a estabilidade pode ser trabalhada desde a infância, pois é comum as crianças fazerem birra, terem momentos de raiva e demonstrarem incapacidade de se autorrecuperar após sofrer uma frustração cotidiana. Por esse motivo, a estabilidade emocional é uma das características mais trabalhadas na terapia cognitivo-comportamental.

A estabilidade emocional e os estudos

Uma vez que está relacionada à habilidade de lidar com obstáculos e situações de estresse, como provas e exames escolares, a estabilidade emocional também está relacionada com o bom desempenho escolar e a continuidade dos estudos. Essa relação também já foi comprovada através de pesquisas científicas, como o famoso “Marshmallow Study”, um estudo realizado em 1960 pela Universidade de Stanford. Nele, as crianças ganhavam um marshmallow e, se conseguissem esperar um pouco, ganhariam um segundo; se o comessem logo, não ganhariam outro. Essas mesmas crianças foram acompanhadas nos anos seguintes e foi observado que as que esperaram pelo segundo marshmallow se saíram melhor nos estudos. Se você almeja um futuro produtivo para seu filho, vale fugir do imediatismo e investir na paciência e na persistência.

Aprendendo a lidar com frustrações e regras estabelecidas

Outro aspecto importante para edificar a estabilidade emocional desde a infância é trabalhar com regras e frustrações. Quando a criança se depara, em casa, desde cedo, com situações em que não consegue o que quer ou precisa aceitar regras que não contemplam a sua vontade imediata, fortalece sua capacidade de resignação e adequação, que também servirá para desafios da vida adulta. “Assim as crianças já sabem o que podem ou não fazer e não têm de pensar nisso a toda hora”, diz Paula Furtado. A partir das experiências de vida e por meio do modelo dado em casa o pequeno vai moldar sua personalidade e caráter. “Por isso, a criança tem de aprender a se frustrar em casa, que é o lugar seguro, onde ela sabe que é amada”, enfatiza Paula Furtado.

É fundamental, ainda, orientar desde cedo sobre a importância de direitos e deveres. Por exemplo obrigações consideradas “chatas”: fazer as lições de casa ou arrumar o quarto. A partir do momento em que a criança cumpre com sua obrigação, ela será recompensada com seus direitos, ou seja, aquilo que quer fazer. “Os pais não podem faltar ao trabalho para ir a uma festa, certo? Da mesma forma os filhos também não podem deixar de estudar para ir passear. Deixando claro esse tipo de limite em sua própria vida, os pais transmitem a noção de direitos e deveres”, aponta Paula Furtado.

Fazer e explicar os famosos combinados também é sempre muito positivo, são uma ajuda e tanto para a manutenção da estabilidade.

Conte muitas histórias

Ao adentrar o mundo da leitura e da ficção desde cedo é uma forma de estimular e oferecer ambientes favoráveis à estabilidade emocional. A partir da leitura, a criança envolve-se com a história que é contada e percebe que, assim como os personagens, é capaz de enfrentar as dificuldades da vida. “Ouvindo ou lendo histórias, a criança trabalha as suas angústias”, explica Paula Furtado, que também ressalta a possibilidade de trabalhar a moralidade com debates sobre certo x errado e bem x mal através dos contos. Mas é bom respeitar a autonomia dos pequenos, deixando que encontrem seus próprios significados a partir da história. “A criança é muito projetiva. Se ela se identificar com os personagens e puder fazer uma interpretação própria, melhor”, ressalta a psicopedagoga.

Estabilidade x repressão emocional

Para finalizar, é importante ressaltar que encorajar a estabilidade emocional é diferente de exigir a repressão de sentimentos naturais e necessários. Assim como na vida adulta passamos pelas mais diversas situações, que despertam uma variedade incontável de sentimentos, os pequenos também têm necessidade de experimentar e expressar sentimentos negativos diante de suas frustrações e perdas. Basta apenas que pais e responsáveis os ajudem a canalizar e processar isso tudo de forma saudável.

Semeando virtudes

Agir com moderação, não perder a paciência com qualquer coisa, tentar de novo mesmo diante dos obstáculos – essas atitudes são exemplos de virtudes que se podem ser construídas e incentivadas nos pequenos e relacionam-se diretamente à estabilidade emocional.

Por isso, Paula Furtado finaliza. “É essencial que os pais estimulem o desenvolvimento na criança de atitudes e comportamentos seguros e éticos. Dessa forma ajudam a construir adultos que procuram solucionar problemas, vencer desafios e alcançar os objetivos do seu cotidiano. E o principal, a criança também vai se sentir segura e amparada afetivamente, e por isso terá mais facilidade em lidar melhor com seus sentimentos. Estará mais preparada para viver no mundo – um lugar cheio de acontecimentos e momentos bons ou ruins”.

É claro que educar um filho é sempre um desafio, e isso exige amor, cuidados e conhecimento. Não há receitas válidas para todos, mas há orientações que sustentam ações que possibilitam melhores resultados e histórias familiares de conquista, superações, sucesso e felicidade.

  • Vivenciem bons hábitos de organização com seu filho.
  • Demonstrem segurança, sejam firmes, coerentes e carinhosos.
  • Mantenham a palavra.
  • Planejem situações para que a criança possa fazer escolhas.
  • Estimulem a responsabilidade, ensinando a criança a avaliar suas próprias atitudes.

“A alegria de ser amado educa para amar”

Oralda Adur de Souza

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