Educação financeira para as crianças: como ensinar desde cedo?

Vivemos em uma sociedade capitalista, ou seja, é inegável como o dinheiro representa uma parte importante das nossas vidas. Sendo assim, a educação financeira infantil é fundamental para a formação do indivíduo e deve ser incluída de maneira leve e lúdica, com noções básicas de como lidar adequadamente com as suas finanças.

Educação financeira para as crianças: como ensinar desde cedo?
Imagem: criado por Freepik

A educação financeira é um tema que merece atenção para o desenvolvimento das crianças e embora algumas famílias ainda não introduzem noções financeiras nesse período, é importante que as crianças aprendam o seu valor ainda pequenas. Isso fará com que se tornem adultos responsáveis e seguros em relação às finanças pessoais.

No entanto, existem abordagens diferentes para cada idade. Crianças muito pequenas ainda não sabem contar, mas já podem entender a simbologia por trás do dinheiro. Já as crianças mais velhas têm um entendimento maior sobre o ganho, consumo e gasto do dinheiro, podendo ser ensinadas de forma mais objetiva.

O papel e a importância da educação financeira para crianças

Preparar financeiramente os pequenos é o processo para torná-los capazes de fazer o melhor uso possível do dinheiro. Assim, quando chegarem à fase adulta, eles saberão gerir suas finanças para conquistar uma boa qualidade de vida.

Sendo assim, a educação financeira desde a infância é muito importante porque garante certa estabilidade — que, de acordo com pesquisa do Serviço Central de Proteção ao Crédito, não é tão simples de ser conquistada: 25% dos casos de inadimplência no país são resultado de descontrole financeiro.

Como começar a falar sobre dinheiro?

A educação financeira é coisa de criança e deve ser trabalhada desde cedo, bastando adequar a linguagem e a abordagem – ou seja, a família e a escola têm parte nessa formação e conscientização. Aos poucos, conceitos e processos mais específicos podem ser introduzidos, como cálculos, taxas e formas de poupar para desejos futuros.

Tudo isso não se refere apenas às vontades e necessidades individuais, mas tem relação com um uso responsável do dinheiro, para que os pequenos cresçam e saibam lidar com os desafios da sociedade, equilibrando sonhos e obrigações.

Educação x comportamento com o dinheiro

O economista Edgard Leonardo, mestre em administração pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), concorda que a questão é mais do que meramente econômica, é comportamental. Acredita, também, que a educação financeira é fundamental para desmistificar a ideia de que o consumo é, necessariamente, algo predatório.

“No Brasil, o consumo – gastos das famílias para a aquisição de bens e serviços – responde por mais da metade do PIB. Todavia, é importante salientar que não existe fundamentação lógica para sustentar a ideia de que uma economia pode crescer somente por meio do estímulo ao consumo. O consumo é o objetivo, mas é a produção que é o meio”, explica.

O equilíbrio na educação financeira

Existem fortes argumentos implicando que vivemos em uma sociedade consumista (não confundir com “Sociedade de Consumo”, termo utilizado para designar o tipo de sociedade que se encontra em uma etapa avançada de desenvolvimento industrial capitalista):

“É fato que atualmente o consumismo é fortemente induzido pelo marketing que, em uma sociedade fragilizada, encontra o ambiente perfeito para a compulsão. Aproveitando o terreno fértil de pessoas incessantemente descontentes buscando algo que as conforte. O consumo, entretanto, é algo natural. Precisamos de bens e serviços para satisfazer nossas necessidades, porém não devemos nos escravizar pelo consumo. O consumo ostentatório (termo usado para descrever os gastos em bens e serviços adquiridos principalmente com o propósito de mostrar riqueza) está na base de muitos dos problemas de consumo, principalmente entre os mais jovens (e muitos adultos também)”, salienta Edgard.

O economista afirma que quando o consumo exagerado começa atingir a sociedade como elemento natural do sistema, diversos problemas surgem: lixo em excesso, alto consumo de recursos naturais, poluição atmosférica, desmatamento etc. “Do ponto de vista individual, há ainda o total descontrole das finanças pessoais. Tudo passa, então, por uma mudança de comportamento das pessoas, pela maturidade de sua relação com o dinheiro e o conhecimento de ferramentas básicas de gestão das finanças pessoais”, explica.

Educação financeira nas escolas

O economista Edgard Leonardo destaca que as instituições de ensino possuem um papel fundamental, até em relação a coisas simples. Além disso, certamente aulas de finanças pessoais podem ajudar.

Mas é em casa é que tudo tem início. Crianças que crescem em um ambiente saudável, com equilíbrio nas decisões de consumo, transparência e envolvimento nas decisões (se já tiverem idade para isso), certamente se tornarão adultos conscientes”, conclui.

Ensinando na prática

Oferecer uma pequena quantia mensal ou semanal para as crianças a partir de 6 ou 7 anos é uma ótima forma de ensinar a lidar com o dinheiro. Portanto, para isso, é bom observar algumas recomendações:

  • explique à criança como as moedas e notas são divididas em diferentes valores e dê exemplos concretos do que pode ser comprado com cada quantia;
  • deixe claro quais despesas continuam a ser pagas por você e quais serão pelo dinheiro da criança;
  • não ofereça valores muito altos: contar um real para cada ano de vida da criança é uma boa referência. Uma criança de 8 anos pode receber 8 reais por semana e assim por diante;
  • caso a criança gaste tudo de uma vez só, aproveite para iniciar a cultura sobre poupança e planejamento;
  • ensine finanças e matemática ao mesmo tempo: incentive a criança a anotar os gastos e a fazer contas para saber de quanto ainda dispõe “em caixa”.

Aprendendo e brincando

Para as crianças, aprender brincando é sempre mais divertido, por isso os brinquedos, jogos e livros coloridos são bons aliados aos pais na missão de ensinar a lidar com o dinheiro.

É possível encontrar brinquedos simples, como a caixa registradora, que reproduz uma situação de compra e venda em uma loja, por exemplo. Aliás, aqui cabe uma observação, pois alguns pais resistem em levar os filhos ao supermercado para evitar que peçam para comprar supérfluos. Contudo, perdem uma excelente oportunidade de mostrar, na prática, como funciona o dinheiro.

Para os maiores de 8 anos, existem os jogos clássicos, como o tradicional Banco Imobiliário, que simula situações de compra e venda de terrenos, casas e empresas. A versão mais moderna do jogo inclui a maquininha de passar cartão de crédito.

Tabuada com adesivos

Desde que a criança começa os primeiros anos do ensino fundamental na escola, a tabuada é tida como um verdadeiro inimigo ou um monstro muito assustador. Então, que tal desmistificar o assunto ensinando com adesivos?

Com o livro “Tabuadas com adesivos”, você apresenta a tabuada de uma forma mais dinâmica e atrativa. É aprendizado e diversão sem nem se dar conta!

Você é o exemplo!

A educação financeira para crianças só funciona quando o adulto dá o exemplo e demonstra que, de fato, não há dinheiro de sobra no orçamento. Os pequenos, que sempre observam os seus responsáveis, logo notarão uma incoerência se os grandinhos gastam além da conta.

Como você pôde perceber, a educação, o controle emocional e os princípios recebidos em casa são os alicerces da educação financeira para crianças. Com eles, a boa formação do pequeno consumidor — que se trata de um processo longo e demorado — é garantida.

“A educação muda pessoas e pessoas transformam o mundo.”

Paulo Freire

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